sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Gil Vicente


Pouco se sabe sobre a vida de Gil Vicente, autor de Auto da Barca do Inferno . Ele teria nascido por volta de 1465, em Guimarães ou em outro lugar na região da Beira. Casado duas vezes, teve cinco filhos, incluindo Paula e Luís Vicente, que organizou a primeira compilação das suas obras.

No início do século 16, há referência a um Gil Vicente na corte, participando dos torneios poéticos. Em documentos da época, aparece outro Gil Vicente, ourives, a quem é atribuída a Custódia de Belém (1506), recipiente para exposição de hóstias feita com mais de 500 peças de ouro. Há ainda mais um Gil Vicente que foi "mestre da balança" da Casa da Moeda. Alguns autores defendem, sem provas, que os três seriam a mesma pessoa, embora a identificação do dramaturgo com o ourives seja mais viável, dada a abundância de termos técnicos de ourivesaria nos seus autos.

Ao longo de mais de três décadas, Gil Vicente foi um dos principais animadores dos serões da corte, escrevendo, encenando e até representando mais de quarenta autos. O primeiro deles, o "Monólogo do Vaqueiro" (ou "Auto da Visitação"), data de 1502 e foi escrito e representado pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha, para comemorar o nascimento do príncipe dom João, futuro rei dom João 3o. O último, "Floresta de Enganos", foi escrito em 1536, ano que se presume seja o da sua morte.

O "Auto da Sibila Cassandra", escrito em 1513, introduz os deuses pagãos na trama e por isso é considerado por alguns como o marco inicial do Renascimento em Portugal.

Alguns dos autos foram impressos sob a forma de folhetos e a primeira edição do conjunto das obras foi feita em 1562, organizada por Luís Vicente. Dessa primeira compilação não constam três dos autos escritos por Gil Vicente, provavelmente por terem sido proibidos pela Inquisição. Aliás, o índice dos livros proibidos, de 1551, incluía sete obras do autor.

Gil Vicente foi considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. A estrutura das suas peças e muitos dos temas tratados foram desenvolvidos a partir do teatro medieval, defendendo, por exemplo, valores religiosos. No entanto, alguns apontam já para uma concepção humanista, assumindo posições críticas.

Em 1531, em carta ao rei, Gil Vicente defendeu os cristãos-novos, a quem tinha sido atribuída a responsabilidade pelo terremoto de Santarém. Também no "Auto da Índia" apresentou uma visão antiépica da expansão ultramarina.

Gil Vicente classificou suas peças dividindo-as em três grupos: obras de devoção, farsas e comédias. Seu filho, Luís Vicente acrescentou um quarto gênero, a tragicomédia.

Estudiosos recentes preferem considerar os seguintes tipos: autos de moralidade, autos cavaleirescos e pastoris, farsas, e alegorias de temas profanos. No entanto, é preciso lembrar que, por vezes, na mesma peça encontramos elementos característicos de vários desses gêneros.

Gil Vicente vai muito além daquilo que, antes dele, se fazia em Portugal. Revela um gênio dramático capaz de encontrar soluções técnicas à medida das necessidades. Nesse sentido, ele pode ser encarado como o verdadeiro criador do teatro nacional.

Por outro lado, a dimensão e a riqueza da sua obra constituem um retrato vivo da sociedade portuguesa, nas primeiras décadas do século 16, onde estão presentes todas as classes sociais, com os seus traços específicos, seus vícios e suas preocupações. Também no aspecto lingüístico o valor documental da sua obra é inestimável e constitui uma grande fonte de informação sobre o início do século 16 em Portugal.

Os Lusíadas - Luís Vaz de Camões


Os Lusíadas é uma epopeia portuguesa escrita por Luís Vaz de Camões, principal nome do Quinhentismo português, e publicada em 1572.
A obra possui basicamente três histórias: a viagem de Vasco da Gama, a história de Portugal e a luta dos deuses do Olimpo. Ela é dividida em 1102 estrofes e 8 versos, agrupados em 10 cantos. Pode-se perceber em suas entrelinhas o patriotismo lusitano, e foi a primeira obra a celebrar as glórias do império de Portugal.
Os episódios principais dessa epopeia são:

  • Consílio dos Deuses - nesse existe bastante emoção;
  • Inês de Castro - o mais lírico, no qual há mais sentimentos, fala-se de amor;
  • Velho do Restelo - Neste há uma crítica ao expansionismo português;
  • Ilha dos Amores - hora do descanço para os merecidos navegadores.


A narração tem início quando as caravelas de Vasco da Gama já estão navegando pelo Oceano Índico. Os navegantes são supervisionados pelos deuses do Olimpo, que decidem seus destinos após a realização de um concílio.
Os portugueses encontram em Vênus uma preciosa aliada e em Baco o mais ferrenho inimigo. Na costa oriental da África, os portugueses aportam em Moçambique e depois em Melinde, cujo rei pede a Vasco da Gama que conte a história do país, motivo dos cantos três e quatro.
Dois episódios serão destacados dentro da história de Portugal. O primeiro é protagonizado por Inês de Castro, jovem que acompanha D. Constança de Castela, princesa prometida a D. Pedro, filho de Afonso 4º de Portugal. Jovem de rara beleza, Inês atrai a atenção do príncipe herdeiro, que, após a morte da esposa, casa-se secretamente com ela. Afonso 4º, ouvindo conselhos daqueles que viam nela mais uma aventureira a serviço da Espanha, manda matá-la. O inconformado D. Pedro, ao assumir o trono português, fez de sua amada a rainha de seu povo, desenterrando-a e coroando-a. Camões obtém um efeito extraordinário ao inserir na epopeia este episódio essencialmente lírico.
No canto seguinte (IV), Gama prossegue, narrando a história de Portugal desde a dinastia de Avis (D. João I) até a partida da armada para a Índia. Nas últimas estâncias do canto está inserido o episódio de "O Velho do Restelo".
Portugal vive uma fase de euforia. Em meio à preparação da partida das naus rumo às grandes conquistas surge O Velho do Restelo, representando a oposição entre passado e presente, antigo e novo. O Velho chama de vaidosos aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por audácia ou coragem, se lançam às aventuras ultramarinas. O Velho do Restelo simboliza a preocupação daqueles que anteveem um futuro sombrio para a Pátria.
Já no final da obra, os navegantes finalmente chegam a seu destino e são recebidos por belas ninfas que lhes dão amor, carinho e comida, uma bela recompensa para esses guerreiros do mar.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Esse Cara - Caetano Veloso (Cantiga de Amigo)


ESSE CARA
Caetano Veloso


Ah! Que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher

>> A música "Esse Cara", de Caetano Veloso, é uma representação da Cantiga de Amigo, produção lírica da idade média. As Cantigas de Amigo são composições breves e singelas, postas na voz da mulher apaixonada.
Como pode ser visto na letra da música, a mulher está apaixonada e deseja a todo momento o homem que está na sua vida, mas que vai embora na madrugada. Percebe-se que ela tem um amor intenso por ele, quando ela diz que ele a consome e consome tudo o que ela tem e o que ela quer. Outro traço desse amor e da exaltação desse homem pode ser visto quando a voz feminina diz que "o cara" é "O homem" e ela é apenas "UMA mulher".

terça-feira, 14 de agosto de 2012

HAGIOGRAFIA DE SÃO ROQUE

 

         Nascido em Montpellier, na França, em 1295, São Roque era originário de uma família nobre. Sua mãe Libéria era devota de Nossa Senhora e tinha muita fé. Pediu a ela que lhe desse a graça de ter um filho, pois já estava em idade avançada. Com a vinda de Roque, Libéria e o fidalgo João se dedicaram à educação do menino e este, por sua vez, seguiu os passos da mãe na fé e na devoção.
        Entre seus quinze e vinte anos, Roque sofreu com a perda dos pais e herdou um enorme patrimônio. Porém, ele queria viver na pobreza como Jesus viveu. Assim, dividiu entre os pobres toda a riqueza que tinha acesso. Os bens imóveis foram entregues a seu tio. Depois disso, partiu para Roma sem nada.
        Chegando a Toscana, em Aguapendente, viu a grande mortalidade causada pela peste. Tomado pelo desejo de ajudar, pediu permissão ao administrador do hospital ajudar os doentes. Com a permissão do administrador, Roque se infiltrou entre os empestados e cessou a epidemia da doença naquela cidade. O mesmo se deu em outros lugares; dizia-se que a peste fugia de Roque.
        Quando teve conhecimento de que a peste chegara a Roma, Roque partiu imediatamente para o lugar. Chegando lá, foi ouvido em confissão pelo cardeal Britânico, que tomou conhecimento dos dons que o Santo possuía  e assim pediu-lhe para que suplicasse a Deus pelo fim do flagelo que atingia a cidade. Roque fez a oração e, sentindo que alcançara a graça, convidou o cardeal a agradecê-la juntamente com ele. Mas esse fato se creditou à virtude do Santo.
         Permaneceu em Roma por três anos, praticando a caridade na assistência aos enfermos. Retornou à França e ficou alguns anos em Lombardia, tratando de doentes e curando muitos com o sinal da cruz.
         Em Piacenza (Palencia), acabou por contrair a doença. Certa noite, acordou com febre e dor aguda na perna esquerda, o que o fazia gritar. Para não incomodar os doentes do hospital, dirigiu-se para fora da cidade, onde encontrou uma pequena choça que lhe serviu de abrigo.
         
Com a graça de Deus, Roque viu brotar perto da cabana, um manancial de água cristalina. Com ela, sentia mais alívio, lavando suas feridas. Ele também contou com a ajuda de um cão, que roubava pão todos os dias da mesa de seu dono e levava para ele comer. O dono do cão, intrigado com a cena todos os dias, seguiu-o para ver o que era e, encontrando Roque, fez amizade com ele e o ajudou.
         Curado da peste, Roque dirigiu-se para à França a fim de distribuir o restante de seus bens. Montepellier estava em guerra civil quando lá chegou. Tido como espião, ele foi levado ao governador, que era seu tio. Como estava mudado pelo passar dos anos, ninguém o reconheceu e o levaram preso. Ficou num calabouço escuro durante cinco anos, alimentando-se de pão e água e passando os dias em oração.
         Sentindo a morte chegar, Roque pediu a presença de um sacerdote para se confessar e comungar. O sacerdote percebeu o quanto o homem era estraordinário e contou ao governador, que não deu ouvidos.
        Ao descer ao calabouço, o carcereiro viu uma luz muito brilhante saindo pelas brechas da cela. Abriu a porta e encontrou Roque morto, estendido no chão. Completamente abandonado, Roque morreu em 16 de agosto de 1327. Difundiu-se pela cidade a notícia de que havia falecido um Santo na prisão. Muitas pessoas dirigiram-se para lá. Entre os visitantes, estava também sua avó, que reconheceu o corpo de Roque por uma mancha cor de vinho, em forma de cruz, que ele tinha no peito.
          Ao ter conhecimento de que o morto era seu sobrinho, o governador ficou inconsolável pela dureza com que o tratara e providenciou suntuosos funerais. O corpo de Roque foi conduzido triunfalmente pelas ruas da cidade, acompanhado de clero, nobreza e povo.
          Em seu nome, logo aparecerem diversos e prodigiosos milagres. Durante o Concílio de Constança, em 1414, São Roque foi invocado contra a peste que tomara conta da cidade. A partir dessa data, o culto de São Roque se estendeu por toda a Europa, particularmente à Itália e à Flandres. Este culto foi solenemente confirmado pelo Papa Urbano VIII e por dois decretos da Sagrada Congregação dos Ritos de 16 de julho e 26 de novembro de 1629.  

Fonte: http://www.igrejaparati.com.br/santos_-_s%C3%A3o_roque.htm